sexta-feira, 19 de agosto de 2016

MARIA MULAMBO DA CALUNGA

A Historia de Tatta Mulambo da calunga
Blog de tatamulambo :Tata Mulambo, A Historia de Tatta Mulambo da calunga
Sua lenda diz que Maria Mulambo nasceu em berço de ouro, cercada de luxo. Seus pais não eram reis, mas faziam parte da corte no pequeno reinado.
Maria cresceu sempre bonita e delicada.
Com seus trejeitos, sempre foi chamada de princesinha, mas não o era.
Aos 15 anos, foi pedida em casamento pelo rei, para casar-se com seu filho de 40 anos.
Foi um casamento sem amor, apenas para que as famílias se unissem e a fortuna aumentasse.
Os anos se passavam e Maria não engravidava.
O reino precisava de um outro sucessor ao trono.
Maria amargava a dor de, além de manter um casamento sem amor, ser chamada de árvore que não dá frutos; e nesta época, toda mulher que não tinha filhos era tida como amaldiçoada. Paralelamente a isso tudo, a nossa Maria era uma mulher que praticava a caridade, indo ela mesma aos povoados pobres do reino, ajudar aos doentes e necessitados. Nessas suas idas aos locais mais pobres, conheceu um jovem, apenas dois anos mais velho que ela, que havia ficado viúvo e tinha três filhos pequenos, dos quais cuidava como todo amor. Foi amor à primeira vista, de ambas as partes, só que nenhum dos dois tinha coragem de aceitar esse amor.
O rei morreu, o príncipe foi coroado e Maria declarada rainha daquele pequeno país.
O povo adorava Maria, mas alguns a viam com olhar de inveja e criticavam Maria por não poder engravidar.
No dia da coroação os pobres súditos não tinham o que oferecer a Maria, que era tão bondosa com eles. Então fizeram um tapete de flores para que Maria passasse por cima.
A nossa Maria se emocionou; seu marido, o rei, morreu de inveja e ao chegar ao castelo trancou Maria no quarto e deu-lhe a primeira das inúmeras surras que ele lhe aplicaria. Bastava ele beber um pouquinho e Maria sofria com suas agressões verbais, tapas, socos e pontapés.
Mesmo machucada, nossa Maria não parou de ir aos povoados pobres praticar a caridade. Num destes dias, o amado de Maria, ao vê-la com tantas marcas, resolveu declarar seu amor e propôs que fugissem, para viverem realmente seu grande amor.
Combinaram tudo.
Os pais do rapaz tomariam conta de seus filhos até que a situação se acalmasse e ele pudesse reconstruir a família. Maria fugiu com seu amor apenas com a roupa do corpo, deixando ouro e jóias para trás.
O rei no princípio mandou procurá-la, mas, como não a encontrou, desistiu.
Maria agora não se vestia com luxo e riquezas, agora vestia roupas humildes que, de tão surradas, pareciam mulambos; só que ela era feliz.
E engravidou.
A notícia correu todo o país e chegou aos ouvidos do rei.
O rei se desesperou em saber que ele é que era uma árvore que não dá frutos. A loucura tomou conta dele ao saber que era estéril e, como rei, ele achava que isso não podia acontecer.
Ele tinha que limpar seu nome e sua honra.
Mandou seus guardas prenderem Maria, que de rainha passou a ser chamada de Maria Mulambo, não como deboche mas, sim, pelo fato de ela agora pertencer ao povo. Ordenou aos guardas que amarrassem duas pedras aos pés de Maria e que a jogassem na parte mais funda do rio. O povo não soube, somente os guardas; só que 7 dias após esse crime, às margens do rio, no local onde Maria foi morta, começaram a nascer flores que nunca ali haviam nascido. os peixes do rio somente eram pescados naquele local, onde só faltavam pular fora d’água. Seu amado desconfiou e mergulhou no rio, procurando o corpo de Maria; e o encontrou. Mesmo depois de estar tantos dias mergulhado na água, o corpo estava intacto; parecia que ia voltar à vida. os mulambos com que Maria foi jogada ao rio sumiram.
Sua roupa era de rainha.
Jóias cobriam seu corpo.
Velaram seu corpo inerte e, como era de costume, fizeram uma cerimônia digna de uma rainha e cremaram seu corpo.
O rei enlouqueceu.
Seu amado nunca mais se casou, cultuando-a por toda a vida, à espera de poder encontra sua Maria.
No dia em que ele morreu e reencontrou Maria, o céu se fez azul mais límpido e terve início a primavera.
Assim a nossa Maria, que agora era rainha Maria Mulambo, virou lenda; e até hoje é invocada para proteção dos amores impossíveis…

SER PAI DE SANTO

Ser Pai de Santo é viver mil vezes em apenas uma vida, é lutar por causas perdidas, é desconhecer a palavra recompensa apesar dos seus atos.
Ser Pai de Santo é caminhar na dúvida cheia de certezas, é correr atrás das nuvens num dia de sol e alcançar o sol num dia de chuva.
Ser Pai de Santo é chorar de alegria e muitas vezes sorrir com tristeza, é cancelar sonhos em prol de terceiros, é acreditar quando ninguém mais acredita, é esperar quando ninguém mais espera.
Ser Pai de Santo é identificar um sorriso triste em uma lágrima falsa, é ser enganado e sempre dar mais uma chance, é cair no fundo do poço e emergir sem ajuda.
Ser Pai de Santo é se perder em palavras e depois perceber que se encontrou nelas, é distribuir emoções que nem sempre são captadas.
Ser Pai de Santo é comprar, emprestar, alugar, vender sentimentos, mas jamais dever, é construir castelos na areia, vê-los desmoronados pelas águas e ainda assim amá-las.
Ser Pai de Santo é saber dar o perdão, é tentar recuperar o irrecuperável, é entender o que ninguém mais conseguiu desvendar.
Ser Pai de Santo é estender a mão a quem ainda não pediu, é doar o que ainda não foi solicitado.
Ser Pai de Santo é ter a arrogância de viver apesar dos dissabores, das desilusões, das traições e das decepções.
Ser Pai de Santo é ser pai dos filhos dos outros e muitas vezes não ser dos seus, é amar igualmente e nem sempre ser amado.
Ser Pai de Santo é ter confiança no amanhã e aceitação pelo ontem, é desbravar caminhos difíceis em instantes inoportunos e fincar a bandeira da conquista em meio a derrota.
Ser Pai de Santo é entender as fases da lua por ter suas própria fases. É ser “nova” quando o coração está a espera de filhos de Santo, ser “crescente” quando estes filhos batem a sua porta, ser “cheia” quando já não cabe tantos filhos no Ylê e “minguante” quando muitos desses filhos vão embora cortando seu coração ao meio com injurias e falsas palavras.
Ser Pai de Santo é hospedar dentro de si o sentimento de perdão, é voltar no tempo todos os dias e viver por poucos instantes coisas que nunca ficaram esquecidas.
Ser Pai de Santo é cicatrizar feridas de outros e inúmeras vezes deixar as suas próprias feridas sangrando e doendo.
Ser Pai de Santo é chorar calado as dores de todo mundo e em apenas um segundo já estar sorrindo.
Ser Pai de Santo é subir degraus e se os tiver que descer não precisar de ajuda, é tropeçar, cair e voltar a andar sozinho.
Ser Pai de Santo é saber ser super-homem quando o sol nasce e virar Cinderela quando a noite chega.
Ser Pai de Santo é acima de tudo um estado de espírito, é ter dentro de si um grande tesouro escondido chamado FÉ... e ainda assim dividi-lo com o mundo, mesmo que o mundo não mereça e sem esperar nada em troca!
*_SER PAI DE SANTO NA REALIDADE É APRENDER QUE DESDE O COMEÇO VOCÊ SEMPRE ESTEVE SÓ, QUE PODE CONTAR APENAS COM SEUS SANTOS, PORQUE ELES SERÃO OS ÚNICOS QUE SÓ VÃO EMBORA DE SEU YLÊ DEPOIS QUE VOCÊ FOR EMBORA DESTE MUNDO.

CORRESPONDÊNCIA ENTRE OS EXUS E AS DIFERENTES IRRADIAÇÕES DOS ORIXÁS

Os Setes Exus Chefes de Falange da Vibração Espiritual de Oxalá:
Exú 7 Encruzilhadas 
Comando negativo da linha
Exú Sete Chaves
intermediário para Ogum
Exú Sete Capas
intermediário para Oxossi
Exú Sete Poeiras
intermediário para Xangô
Exú Sete Cruzes
intermediário para Yorimá
Exú Sete Ventanias
intermediário para Yori
Exú Sete Pembas
intermediário para Yemanjá

ORGANIZAÇÃO E HIERARQUIA DOS EXUS:

Os Exus, estão também, divididos em hierarquias. Onde temos desde Exus muito ligados aos Orixás até aqueles Exus ligados aos trabalhos mais próximos às trevas.
Os exus dividem-se hierarquicamente, em três planos ou três ciclos e em sete graus e a divisão está formada “de cima para baixo” :
TERCEIRO CICLO
Contém o Sétimo, Sexto e Quinto graus.
Neste Ciclo encontramos os chamados Exus Coroados. São aqueles que tem grande evolução, já estão nas funções de mando. São os chefes das falanges. Recebem as ordens diretas dos chefes de legiões da Umbanda. Pouco são aqueles que se manifestam em algum médium. Apenas alguns médiuns, bem preparados, com enorme missão aqui na Terra, tem um Exu Coroado como o seu guardião pessoal. São os guardiões chefes de terreiro. Não mais reencarnam, já esgotaram há tempos os seus karmas.
• Sétimo Grau – Estão os Exus Chefe de Legião e para cada Linha da Umbanda, temos Um Exu no Sétimo Grau, portanto, temos Sete Exus Chefes de Legião
• Sexto Grau – Estão os Exus Chefes de Falange. São Sete Exus Chefes de Falange subordinados a cada Exu Chefe de Legião, portanto, temos 49 Exus Chefes de Falange.
• Quinto Grau – Estão os Exus Chefes de Sub-Falange. São Sete Exus Chefes de Sub-Falange subordinados a cada Exu Chefe de Falange, portanto, são 343 Exus Chefes de Sub-Falange.

Contém o Quarto Grau.
Neste Ciclo encontramos os chamados Exus Cruzados ou Batizados. São subordinados dos Exus Coroados. Já tem a noção do bem e do mal. São os exus mais comuns que se manifestam nos terreiros. Também, tem funções de sub-chefes. Fazem parte da segurança de um terreiro. O campo de atuação destes exus está nas sombras (entre a Luz e as Trevas). Estão ainda nos ciclos de reencarnações.
• Quarto Grau – Estão os Exus Chefes de Agrupamento. São Sete Exus Chefes de Agrupamento e estão subordinados a cada Exu Chefe de Sub-Falange, portanto, são 2401 Exus Chefes de Agrupamento.
PRIMEIRO CICLO
Contém o Terceiro, Segundo e Primeiro Graus.
Temos dois tipos de Exus neste ciclo :
o Exus Espadados – São subordinados do Exus Cruzados. O seu campo de atuação encontra-se entre as sombras e as trevas.
o Exus Pagãos (Kiumbas) – São subordinados aos exus de nível acima. São aqueles que não tem distinção exata entre o bem e o mal. São conhecidos, também como “rabos-de-encruza”. Aceitam qualquer tipo de trabalho, desde que se pague bem. Não são confiáveis, por isso.
São comandados de maneira intensiva pelos Exus de hierarquias superiores. Quando fazem algo errado, são castigados pelos seus chefes, e querem vingarem-se de quem os mandou fazer a coisa errada.São kiumbas, capturados e depois adaptados aos trabalhos dos Exus.
O campo de atuação dos Exus Pagãos, é as trevas. Conseguem se infiltrar facilmente nas organizações das trevas. São muito usados pelos Exus dos níveis acima, devido esta facilidade de penetração nas trevas.
• Terceiro Grau – Estão os Exus Chefes de Coluna. São Sete Exus Chefes de Coluna e estão subordinados a cada Exus Chefes de Agrupamento, portanto, são 16807 Exus Chefes de Coluna.
• Segundo Grau – Estão os Exus Chefes de Sub-Coluna. São Sete Exus Chefes de Sub-Coluna e estão subordinados a cada Exu Chefe de Coluna, portanto, são 117649 Exus Chefes de Sub-Coluna.
• Primeiro Grau – Estão os Exus Integrantes de Sub-Colunas e são milhares de espíritos nesta função.
Os Exus, em geral, não são bons nem ruins, são apenas executores da Lei.
Ogum, responsável pela execução da Lei, determina as execuções aos Exus.
7º Grau
7 – Chefes de Legião
Exus Coroados
6º Grau
49 – Chefes de Falange
Exus Coroados
5º Grau
343 – Chefes de Sub-Falange
Exus Coroados
4º Grau
2401 – Chefes de Grupamento
Exus Cruzados ou Batizados
3º Grau
16807 – Chefes de Coluna
Exus Espadados e Pagãos
2º Grau
117649 – Chefes de Sub-Coluna
Exus Espadados e Pagãos
1º grau
? – Integrantes de Coluna
Exus Espadados e Pagãos
Além destes aspectos já abordados, vale à pena mencionar os diversos níveis vibracionais, onde os espíritos ligados à Terra, habitam.
Estes níveis são e foram criados de acordo com cada grau evolutivo. Os níveis estão mais relacionados com o mundo da consciência do que com o mundo físico, ou seja, são mais estados de consciência do que um lugar fisicamente localizado.
Como são níveis gerados por espíritos ligados de alguma forma com a evolução da Terra, estes níveis estão vinculados ao próprio planeta. Portanto, quando vemos descrições de camadas umbralinas localizadas em abismos sob a crosta terrestre, devemos entender que embora elas estejam localizadas com estes espaços físicos, elas estão no lado espiritual deste plano físico.
Temos então, Sete Camadas Concêntricas Superiores e Sete Camadas Concêntricas Inferiores.
A divisão está sempre formada “de cima para baixo” :
Camadas Concêntricas Superiores
Sétima, Sexta e Quinta Camadas – Zonas Luminosas
Seres iluminados, isentos das reencarnações. Cumprem missões no planeta. Estão se libertando deste planeta, muitos já estagiam em outros mundos superiores.
Quarta Camada – Zona de Transição
Espíritos elevados, que colaboram com a evolução dos irmãos menores.
Terceira, Segunda e Primeira Camadas – Zonas Fracamente Iluminadas
A maioria dos espíritos que desencarnam, estão nestas camadas. Estão em reparações e aprendizados para novas reencarnações.
Superfície
Espíritos encarnados
Camadas Concêntricas Inferiores
Sétima Camada – Zona Sub-Crostal Superior
Espíritos sofredores de um modo geral que serão em seguida socorridos e encaminhados a planos mais elevados para adaptação e aprendizado, antes de reencarnarem.
Sexta, Quinta e Quarta Camadas – Zona das Sombras, Zona Purgatoriais ou de Regeneração
Espíritos sofredores purgando parte de seus karmas, e que serão encaminhados o mais rápido possível à reencarnação para novas provas e expiações.
Quarta Camada – Zona de Transição
Entre as sombras e as trevas. Zona de seres revoltados e dementados
Terceira, Segunda e Primeira Camadas – Zona das Trevas ou Zona Sub-Crostal Inferior
Estes espíritos estão em estágio de insubmissos, renitentes e rebelados às Leis Divinas. Não reconhecem Deus como o Ser mais superior.
A atuação dos Exus, está praticamente em todas as camadas inferiores, com exceção das Terceira, Segunda e Primeira Camadas, que eventualmente eles “descem” para missões especiais ou mandam os rabos-de-encruza, pois estão mais “ambientados” com as baixas e perniciosas vibrações. Não que os Exus não possam “descer” até lá, mas porque é desnecessário criar uma guerra com os seres infernais, apenas porque se invadiu aquelas zonas.
A maioria dos livros espíritas, que tratam do assunto dos níveis vibracionais, não chega sequer a mencionar algo além das camadas intermediárias ou médio e alto umbral. Descrevem na maioria das vezes as camadas que ficam as sombras e não as trevas, pois os espíritos que fazem tais incursões não podem ou não devem “baixar” mais, pois somente cabe aos exus, espíritos especializados “descer” tanto.

CLASSIFICAÇÃO PELOS PONTOS DE VIBRAÇÃO DOS EXUS

Exus do Cemitério:
São Exus que, em sua maioria, servem à Obaluaiê. Durante as consultas são sérios, reservados e discretos, podem eventualmente trabalhar dando passes de limpeza (descarregando) o consulente. Alguns não dão consulta, se apresentando somente em obrigações, trabalhos e descarregos.
Exus da Encruzilhada:
São Exus que servem a Orixás diversos. Não são brincalhões como os Exus da estrada, mas também não são tão fechados como os do cemitério. Gostam de dar consulta e também participam em obrigações, trabalhos e descarregos. Alguns deles se aproximam muito (em suas características) dos Exus do cemitério, enquanto outros se aproximam mais dos Exus da estrada.
Exus da Estrada:
São os mais “brincalhões”. Suas consultas são sempre recheadas de boas gargalhadas, porém é bom lembrar que como em qualquer consulta com um guia incorporado, o respeito deve ser mantido e sendo assim estas “brincadeiras” devem partir SEMPRE do guia e nunca do consulente. São os guias que mais dão consultas em uma gira de Exu, se movimentam muito e também falam bastante, alguns chegam a dar consulta a várias pessoas ao mesmo tempo.

Classificação Dos Exus

CLASSIFICAÇÃO MORAL (BEM OU MAL): EXÚ PAGÃO OU EXÚ BATIZADO?
Alguns espíritos, que usam indevidamente o nome de Exu, procuram realizar trabalhos de magia dirigida contra os encarnados. Na realidade, quem está agindo é um espírito atrasado. É justamente contra as influências maléficas, o pensamento doentio desses feiticeiros improvisados, que entra em ação o verdadeiro Exu, atraindo os obsessores, cegos ainda, e procurando trazê-los para suas falanges que trabalham visando a própria evolução.
O chamado “Exú Pagão” é tido como o marginal da espiritualidade, aquele sem luz, sem conhecimento da evolução, trabalhando na magia para o mal, embora possa ser despertado para evoluir de condição.
Já o Exu Batizado, é uma alma humana já sensibilizada pelo bem, evoluindo e, trabalhando para o bem, dentro do reino da Quimbanda, por ser força que ainda se ajusta ao meio, nele podendo intervir, como um policial que penetra nos reinos da marginalidade.
Não se deve, entretanto, confundir um verdadeiro Exú com um espíritos zombeteiros, mistificadores, obsessores ou perturbadores, que recebem a denominação de Kiumbas e que, às vezes, tentam mistificar, iludindo os presentes, usando nomes de “Guias”.
Para evitar essa confusão, não damos aos chamados “Exus Pagões” a denominação de “Exu”, classificando-os apenas como Kiumbas. E reservamos para os ditos “Exus Batizados” a denominação de “Exu”.

Filhos de Ogum

Fisicamente, os filhos de Ogum são magros, mas com músculos e formas bem definidas. Compartilham com Exu o gosto pelas festas e conversas que não acabam e gostam de brigas. Se não fizerem a sua própria briga, compram a dos seus camaradas.
Sexualmente os filhos de Ogum são muito potentes; trocam constantemente de parceiros, pois possuem dificuldade de se fixar a uma pessoa ou lugar.
São do tipo que dispensa um confortável colchão de molas para dormir no chão; gostam de pisar a terra com os pés descalços. São pessoas batalhadoras, que não medem esforços para atingir os seus objectivos, são pessoas que mesmo contrariando a lógica lutam insistentemente e vencem.
Não se prendem à riqueza, ganham hoje, gastam amanhã. Gostam mesmo é do poder, gostam de comandar, são líderes natos. Essa necessidade de estar sempre à frente pode torná-los pessoas egoístas e desagradáveis, mas nem sempre.
Geralmente, os filhos de Ogum são pessoas alegres, que falam e riem alto para que todos se divirtam com suas histórias e que adoram compartilhar a sua felicidade

Continuação "Desligamento"

Este artigo, de caráter etnográfi co, consiste em uma descrição daquilo que
ouvi e vi sobre a morte e os diferentes rituais a ela ligados no batuque de Oyó.
À exceção do trabalho de Norton Corrêa (2006) que dedica a segunda parte
de seu livro, “O batuque no Rio Grande do Sul”, aos mortos, não encontramos
trabalhos sobre o batuque gaúcho que tenham se debruçado sobre o tema.
Autores como Melville J. Herskovits (1943) e Roger Bastide3
(1985) tangenciam
a temática à luz de suas experiências etnográfi cas com o candomblé
baiano4
. Esses autores discorrem sobre a relação dos adeptos com os eguns,
os espíritos ou almas dos mortos, ressaltando aquilo que não fora encontrado
no Rio Grande do Sul – como as sociedades de eguns encontradas na África
e na Ilha de Itaparica/BA. A descrição que será oferecida vai ao encontro
2
As expressões nativas virão entre aspas, as palavras em ioruba e os conceitos em português
que diferem do uso corrente da língua serão grafadas sem ênfases, seguidas de notas
explicativas, ou com sua defi nição entre parênteses.
3
Bastide (1978) faz uma primeira síntese de rituais fúnebres no candomblé baiano, em tom
mais descritivo, próximo ao pretendido neste artigo. Contudo, devo frisar, aqui importa
o desfazer em si e não sua descrição para construir interpretações sobre a relação entre
vivos e mortos. De acordo com meus informantes, esse momento é decisivo para os
pais e mães de santo demonstrarem seu saber sobre o fundamento religioso (o que será
tratado adiante).
4
Vale lembrar as preocupações de Herskovits com a construção de escalas, ou seja, aquilo
que teria “guardado” mais ou menos da África no Novo Mundo. Já em Bastide (1985)
encontramos o candomblé baiano como a mais africana das praticas religiosas no Brasil.
Seu modelo seria, mais tarde, criticado como sendo nagocêntrico. Além disso, notemos
que ambos os autores realizaram curtas incursões etnográfi cas no Rio Grande do Sul
Corrêa (2006) já apontara tal questão.
a partir de uma série de rituais que desligarão o morto dos vivos e vice-versa,
sendo o mais importante deles o eru.
Proponho que se tome o desfazer como lugar privilegiado para alargar
o conhecimento antropológico sobre as noções de alma (relacionada ao
conceito de egum), corpo e pessoa (geralmente estudadas a partir da feitura),
e de vida e morte, como fi cará claro ao longo do artigo. Não se trata de uma
postura que vá de encontro aos estudos sobre feitura e construção de pessoas
e corpos nas religiões afro-brasileiras. Nelas encontramos importantes contribuições,
como as de Anjos (1995), e a ideia do apronte (do fazer o chão)como
metáfora recíproca com o nascimento biológico, e as de Goldman (1984),
para o qual a pessoa construída ritualmente no candomblé é folheada,
composta por múltiplos componentes que só entram em equilíbrio após
vinte e um anos de iniciação, momento quando se atinge o tata (quando a
pessoa possui domínio sobre eguns e vodunisis e uma não-submissão aos
orixás). Essa realidade múltipla e folheada que parece dar lugar a um ser
Uno e indiviso, na verdade, nunca se realiza, pois somente os orixás são os
seres verdadeiramente unitários. Por isso, tem-se uma pessoa descontínua em
constante busca pelo equilíbrio. O que o desfazer evidenciará não é apenas
uma concepção outra de pessoa, mas que as porções que a compuseram ao
longo da vida se destacam umas das outras, recebendo diferentes destinos
com o eru.
Os dados são provenientes de meu trabalho de campo em uma casa
do lado7
de Oyó, em Gravataí/RS, presidida pelo pai de santo Odacir do
Ogum. A nação é composta pelos descendentes no santo de Mãe Emília
da Oyá Ladjá – princesa africana que iniciou esse lado no Rio Grande do
7
O batuque é uma religião brasileira de “matriz” africana que cultua doze orixás e é
praticada, principalmente, no Rio Grande do Sul. Essa religião é dividida em “lados” (ou
nações): Jêje, Ijexá, Cabinda, Nagô, Oiá e Maçambique, “[...] cada lado corresponde,
teoricamente, a formas rituais diversas” (Cf. Corrêa, 2006, p. 50). Oro (1999) vem estudando
a transnacionalização dessa religião para a Região Platina. Há relatos de casas de
batuque abertas no estado de Santa Catarina, também. Sobre Oyó, Oro (2002) aponta
para o escasso conhecimento sobre a nação. O único trabalho dedicado a essa nação é a
dissertação de mestrado de Jacqueline Pólvora (1994). Para maiores informações sobre
as diferentes nações e modalidades de culto, ver Oro (1994; 2002) e Corrêa (1994).
Acontece que se morre de várias formas e ao morrer pode-se perder uma
parte do corpo, como um braço ou uma perna, ou fi car deformado. É Nanã
Burukê quem juntará as partes e quem consertará os estragos, juntando os
caquinhos. Nanã Anarauim está sempre correndo, passa e não para. Nanã
Anansurê passa, para e olha, mas vê que aquilo não é para ela. Nanã Burukê
é a que para, recolhe as partes do corpo e leva para algum lugarzinho na
praia – pedras, mata, beira de mar ou rio – e fi ca esperando o que a “lei
manda”. Se nesse tempo, “tudo” (rituais e oferendas) for feito direitinho,
ela irá juntar os pedaços para reconstruir e levar o egum para perto do seu
orixá de cabeça. Diz-se que a cada ritual realizado a pessoa, agora egum, vai
se aproximando mais e mais de seu orixá. Nanã vai levando o egum – ou
alma11 – para perto dele. Pois o fi nal de todos aqueles que são de religião é
aos pés de seu orixá12
.
* * *
As pessoas com quem conversei me contaram que batuqueiro tem de
ser enterrado, nunca cremado. O caixão deve ser embalado (para frente e
para trás). Somente homens “prontos” podem segurar as alças do caixão.
11 Em meu campo, alma é equivalente à pessoa sem a sua parte corpo. O corpo é algo a
ser ocupado, seja por essa parcela da pessoa, seja por um orixá inteiro, seja pela metade
orixá/metade pessoa – os axeres. Pessoa é o resultado da soma das parcelas alma e corpo,
e também seu orixá – esse não como parcela. Aqui, talvez, a evidência de que as opera-
ções de adição e subtração talvez sejam metáforas defi cientes. Contudo, são capazes de,
por meio de simplifi cações, dar inteligibilidade a conceitos formulados com tamanha
complexidade pelos batuqueiros. Alma, corpo e orixá se tornam espécies de parcelas da
soma total, que se separam. Orixá fi ca em Orum (mundo dos orixás). A alma – agora
egum – deve ir para Orum, também. E o corpo fi ca debaixo da terra, vazio. O egum,
alma sem corpo, é, portanto, perigoso, pois que desejoso de outros (novos) corpos para
ocupar. Por isso, o eru não apenas desligará os vivos daquele que morreu, mas ensinará
o egum que ele não pertence mais a este mundo, como já mencionado. Sobre os perigos
dos eguns, ver Corrêa (2006, p. 174).
12 Para uma descrição alternativa dos velórios entre os batuqueiros, ver Corrêa (2006,
p. 136-139). Note-se que o autor realizou etnografi a no tempo em que se velavam os
mortos no salão das casas de religião, daí uma serie de diferentes rituais. É ao redor do
corpo velado que a roda de eguns acontece (Corrêa, 2006, p. 157).

“TEM QUE SABER INICIAR, TEM QUE SABER TERMINAR”: O DESFAZER NO BATUQUE GAÚCHO.

Resumo: A partir do caso etnográfi co da nação Oyó/RS, discuto a noção de
desfazer no batuque gaúcho. Com a descrição do ritual do eru (desligamento),
proponho que se tome o ritual em si como importante para pensar as práticas que
compõem o processo de fazer o santo e a pessoa, e as noções de vida e de morte
nas diferentes religiões de matriz africana. Eru não é um passo ritual para o culto
aos eguns (mortos), mas ele mesmo trata da duração de uma pessoa, que é feita
aos poucos, desfeita no ritual e refeita noutro mundo, onde passará a ter uma
qualidade diferente de relação com os orixás.
Palavras-Chave: Desfazer; Batuque Gaúcho; Morte; Rito Fúnebre.
“KNOWING HOW TO BEGINNING, KNOWING
HOW TO FINISH”: THE UNDOING IN THE BATUQUE
GAUCHO (AN AFRO-RELIGION).
Abstract: From the ethnographic case of the nation Oyo in Rio Grande do Sul/
Brasil, I discuss the notion of undoing in the batuque gaucho (an afro-religion).
With the description of the ritual of the eru (delinking), I propose to take the
ritual itself as important to think about the practices that make up the process
of do an orisha and a person, and the notions of life and death in different afroreligions.
Eru is not just a ritual step in eguns’ (dead people) worship. Instead, it
is regarded to one´s endurance. In this way, a person is done gradually, undone
in this particular ritual and redone in a posthumous world, where they will gain
a different quality of relationship with orishas.
Keywords: Undoing; Batuque Gaucho; Death; Funeral Rite.
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional
da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O Desfazer no Batuque Gaúcho

da de Corrêa (2006; 1998)5
em muitos pontos. Entretanto, as linhas que
seguem exploram um lado da religião que a produção antropológica não se
preocupou ou deixou em segundo plano, o desfazer.
Desfazer é o complexo de práticas relacionadas com a morte e os rituais
que ela implica, que não devem ser negligenciados, mas antes tomados
como tão importantes quanto as práticas que compõem o processo de
fazer o santo e a pessoa. Fazer, ligar (fazer laços), assentar, fi rmar o santo e
acumular obrigações6
culminarão no desfazer. A noção será utilizada neste
artigo para agrupar outros conceitos como desligar, embalar, quebrar, destruir
e terminar. Desfazer, portanto, será considerado em sua importância ritual,
para desligar na terra, para construir alhures, e não como a descrição de um
culto ou anti-culto aos mortos. No batuque de Oyó, veremos esses conceitos
5
Corrêa (1998) apresenta a relação entre vivos e mortos e deuses e mortos, com ênfase
nos confl itos envolvidos. Enfatiza o caráter liminar da identidade dos eguns, o aspecto
transformativo que o aressum (missa dos mortos) representa para a alma da pessoa,
que se transforma em egum. Esse é, portanto, considerado um rito de passagem e um
anti-ritual. Os eguns, diferente do que acontece no lado de Oyó, podem incorporar
em corpos humanos. Além do mais, o aressum deve ocorrer todos os anos para que os
eguns não saiam de sua morada, o balé, para perturbar os vivos (ver Corrêa, 2006, p.
168-172; 1998, p. 93-102). Em sua tese de doutorado, o autor acrescenta que o egum
exerce papel duplo, promovendo ordem e caos nos rituais, sendo assim considerado
um anti-homem e um anti-deus, com comportamento anti-social (cf. Corrêa, 1998,
p. 102). Para uma crítica ao conceito de rito de passagem e a sua simplifi cação ante a
complexidade ritual, que não promove uma “ruptura defi nitiva”, mas uma “repetição
contínua” com exigência de cuidados cotidianos, ver Barbosa Neto (2012, p. 295-298).
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O conceito nativo de obrigação engloba o que tendemos a traduzir por objetos rituais,
por algumas ações e pelos próprios orixás em seus assentamentos. Obrigação designa
o fazer e o cuidar, mas também aquilo que fi ca guardado sobre as prateleiras, atrás das
cortinas, em sopeiras e manteigueiras. São as ferramentas e armas dos orixás, como a
chave e a foice do Bará. São, também, os próprios ocutás (pedras/assentamentos). E,
ainda, momentos, como os cortes (matanças), festas e outros eventos. Ouvimos falar do
tempo em que fi zeram sua obrigação, ou “[...] na obrigação da minha mãe vai ori (banha
de carneiro)”. Obrigação corresponde, também, ao cuidado cada vez mais obrigatório
que se passa a ter com os orixás, de acordo com a escala na hierarquia religiosa.